A Minha História de Fantocheiro – Parte 2
Por Vítor Costa
Depois da feira de Setúbal, continuei a minha caminhada pelas feiras e pelas praias, levando os Robertos às gentes das aldeias, vilas e cidades. Às vezes acompanhado por um dos meus irmãos, outras por primos ou amigos. Eu fazia os Robertos — dava-lhes vida, alma e voz — e eles iam pelas pessoas, pedindo as moedinhas que ajudavam a manter o espetáculo vivo.
Mais tarde, fui viver com os meus tios. Lá tive momentos muito bons. A minha tia Fernanda e o meu tio Joaquim trataram-me com amor, como se fosse um filho. Foi um tempo precioso que guardo com carinho no coração.
Mas a vida não é feita só de alegrias. Em 1990, o meu pai faleceu. A dor foi grande, e foi nesse momento que senti, lá dentro de mim, que não podia deixar morrer os Robertos. Aquilo era mais do que bonecos de pau — era a minha ligação com o passado, com o meu pai, com a tradição.
Numa dessas feiras, em Vila Franca de Xira, estava eu a fazer os Robertos, e cheguei à parte do boi — aquela cena clássica, cheia de energia e confusão divertida. De repente, engoli a palheta! Para quem não sabe, a palheta são duas chapinhas de metal que se colocam na boca para fazer aquela voz característica dos Robertos. Pois eu engoli aquilo, em pleno espetáculo!
Foi um susto tremendo. A plateia nem percebeu, mas por dentro eu estava em pânico. Mesmo assim, continuei o espetáculo até ao fim. Porque o show tem de continuar. Porque os Robertos não podiam morrer comigo.
E foi aí que percebi, de uma vez por todas, que o fantocheiro não é só quem mexe os bonecos. É quem dá a vida a uma tradição. E eu, Vítor Costa, sou esse homem.