sexta-feira, 25 de abril de 2025

Parte 5 – Fumo, correria e um Natal sem bonecos

Parte 5 – Fumo, correria e um Natal sem bonecos
O tempo rola e não para. Um dia estávamos numa feira, acho que era a Feira de Santiago, em Setúbal. Eu estava lá a fazer os Robertos com o meu irmão Tozé. Tínhamos montado a gurita dos robertos prontos, e a criançada a rir-se à brava. De repente, um alvoroço. Gritos por todo o lado. Muita gente a correr. Eu no meio daquilo tudo, com o braço no boneco e a tentar perceber o que se passava. Afinal, uma barraca de farturas ali perto tinha pegado fogo. As pessoas desataram a fugir em pânico. Por pouco não ficava debaixo daquela multidão. Só vi pernas a passar por cima do palco, bonecos a voar... foi por um triz.

Outro dia, já em Lisboa, perto do Natal, estava eu na Rua Augusta com os meus Robertos. O meu irmão Eduardo andava ali a fazer a quete — a pedir as moedinhas ao pessoal, que é assim que se fazia. Estava frio, mas o coração aquecia com cada gargalhada dos miúdos. E de repente... lá vem o senhor polícia. Nem “bom dia”, nem “desculpe lá”. Levou-me os Robertos. Aquilo doeu mais que uma palmada. Fiquei ali, parado, com as mãos vazias e o Natal à porta. Mas não desisti. Fiz outros. Enquanto tiver dedos e voz, os Robertos vão sempre voltar.